FALEMOS DE TERNURA


Caminhando,um destes dias,pela Floresta Venturosa em companhia de um gnomo amigo(sentado no meu ombro e segurando-se ora ao meu cabelo ora a uma das minhas orelhas,para manter o equilíbrio...),chamei-lhe a atenção para a magnífica festa que é o acontecer de cada Primavera,com as flores brotando por toda a parte,os pássaros construíndo os ninhos numa azáfama constante e,um pouco mais tarde,o nascimento de uma nova geração de bichos-todos eles amorosos,mesmo os de espécies que parecem,à partida,menos belas;todos eles transmitindo-nos uma imensa ternura.E,estando nestes considerandos,lembrei-me de um coelhito que tive,cego e paralítico de nascença,e que eu retirava,todos os dias,da coelheira que compartilhava com sua mãe e irmãos,e transportava,cuidadosamente,até uma campinazinha de erva muito verde e tenra,para que pudesse,ao menos,desfrutar dos afagos do Sol e sentir,apesar das suas tremendas limitações,um lampejo de liberdade.Morreria pouco depois,o pobrezinho,mas durou o tempo suficiente para fortalecer em mim a semente da ternura-desse sentimento manso e aveludado que se exprime através de uma carícia,de um beijo,de um gesto solidário ou de uma palavra amiga.Ou,por outras palavras,essa alegria transbordante que sentimos quando acendemos estrelas no coração dos outros.